O telemóvel é um magnífico instrumento de controlo, pessoa a pessoa, numa rede que prende os individuos numa impossivel fuga aquilo que é o objecto sempre presente, sempre ligado, no qual a primeira pergunta é sempre "onde tu estás?" uma pergunta sem sentido num telefone fixo. Os jovens, maridos, mulheres, amantes, namorados, patrões e empregados, jogam todos os dias esse jogo do controlo muito mais importante do que a necessidade de falar ao telemóvel. Na verdade a esmagadora maioria das chamadas de telemóvel não tem qualquer objecto ou necessidade de ser feita, ninguém as farias num mundo dos telefones fixos, que não seja pelo controlo, pela presentificação do indivíduo no seu jogo de inseguranças, solidões, afectos e medos através da caixa electrónica que segura na mão.
Não é a necessidade que justifica a presença quase universal dos telemóveis em qualquer sitio e a qualquer hora, é o complexo jogo de interacções sociais que ele permite sem as quais ja não sabemos viver.
Lurdes Costa
